24 junho 2007

075. Ódio II

Mostra-me a saída da tua cabeça.
Faz-me aproximar e engasgar os meus pensamentos,
mais perto e perto e mais simples e simples.
No fundo eu sou um inútil.
Já não suporto isto.

Odeio-te. Detesto-te.
Já não suporto isto.
Liberta-me desta carne, desta prisão,
não consigo encontrar o caminho dos meus sonhos,
resta-me algo maior
guardado na minha alma com fúria.

Encrostado,
como o sangue da minha garganta.
Carmim.
Casaco de morte falhada.
Odeio-te.

A minha mente lasca-se para fora
com um grito silencioso,
uma goiva escalpa a minha face,
chorando de frio.

Consigo saborear a gota escavando a tua bochecha,
salina, contém a minha sede de sangue...
Liberta-me destes grilhões
que repousam sobre as minha coluna.
E não alcanço algo distante.

Gritas e lanças-me para fora da minha realidade.
Sólido e branco,
estou a ser chamado para o desrespeito,
para a minha extinção...
Tenho que perfurar a pele em que estou preso.

A minha ascenção é travada pela minha apatia.
Enterrado debaixo de ti...
A utilidade desta carcaça
não foi o suficiente para isso.
Não presto...

Não consigo erguer a minha montanha...

Ainda estou frenético demais para erguer.

074. Poço

Estou dentro de um poço.

Sinto falta dos dias
em que encontrava a felicidade
com dois carros
e um tapete enorme.

Agora encontro-a aqui,
na cafeína e na nicotina.

E isso já nem é novidade.

Já não me dá prazer
beber e fumar outra vez.

Acho que é assim que as coisas acontecem.

Procuramos sempre novas formas de sentirmos felizes,
mas sempre nos colocamos em situações
que nos tornam cada vez mais infelizes.

Os nossos empregos,
as nossas relações,
as nossas vidas.
Sempre à procura de um equilíbrio.

E raramente o encontramos.

E...
O que nos acontece quando descobrimos
que, lá no fundo, nada nos faz felizes?