09 outubro 2007

103. Percursos

Segue os traços dos meus contornos
copia as linhas do meu corpo.
Cai nos meus braços.
Abandona os meus braços
e fica na minha alma.
Beija-me a pele.
Formigueiros.
Mordisca-me o pescoço.
Arrepios.
Parece tudo tão...
Apertado.
Profundo.
Mexe.
Quente.
Engasgando.
Pulsando.
Mais fundo.
Mais apertado.
Gritando.
Apertando.
Arranhando.
Escuro.
Vibrando.
Suores frios.
Sabor quente.
Preto.
Mais escuro.
Dentro.

Parece pornográfico
mas não é.
Não é...

Já estás confuso?

102. Música

A estática que sai do rádio embala a minha paz.

Consigo ouvi-la baixinho, murmurante, no fundo
enquanto eu, em silêncio, canto.

Os meus pulsos respiram pela primeira vez
enquanto eu, hipnótico, fito o tecto.

O que é aquilo que tenho na minha mão?
Consigo sentir a sua forma
mas é difícil distingui-lo entre morte e paz.
Como pude fazer isto?

101. Correntes

Fico preso na cela
que se afunda no fundo da minha alma.

O peso da minha depressão
espeta-me agulhas de sofrimento.
Agonia saindo por cada poro
como vapores de ácido verde
e guinchos ensurdecedores de águias,
que bicam a minha pele para se soltarem.

Mas eis que me sobrevoa um piscar de felicidade.
Mas efémera.
Ela é deformada logo,
quase que imediatamente,
pelo meu desejo em mais grilhões,
mais correntes que me espetam
no chão das agulhas da minha depressão.

E, quando me solto finalmente
das garras da depressão,
ainda consigo ouvi-la
a agitar as correntes.

Para me lembrar
que está pronta para o meu regresso.