23 outubro 2007

109. Vidro

Olho-te, tão belo,
mas não te posso tocar.
Ouço-te, tão angélico,
mas não te posso responder.

E eu estou morto
e separado de ti,
deste lado do vidro
e da realidade.

Se eu soubesse...
Se eu imaginasse que me amavas
- a faca no meu pulso
lateja de dor -
ecoava em ondas a minha dor
de não te poder alcançar.

Secretamente olho-te e ouço-te,
lamentando o facto de estar deste lado do vidro.
E choro o meu arrependimento.
Eternamente.

Até que te unes a mim...

108. Interlúdio

E o Sol já não existe.
Nem as estrelas. Nem a Terra.
E vida já não existe.
Nem as pessoas. Nem o tempo.
Enquanto nós nos amamos,
Nós existimos, Apenas nós...
E amamos.


E, na fracção de segundo,
entre o bater do coração
e o soltar do suspiro,
nós paramos.


E recomeça o tempo
e as pessoas e a vida.
E a terra volta a existir
e as estrelas e o Sol,
enquanto nós
começamos a deixar de existir.